sexta-feira, 20 de maio de 2011

Será a astrologia uma ciência? E a filosofia?

Relativamente à Quaestio de 6-5-2011, eis a que considero a melhor resposta, sobretudo, por estar muito bem argumentada:
«Para a resposta a esta Quaestio é fundamental a recorrência a três conjuntos de linhas gerais em que um defina a Astrologia, outro a ciência e por fim outro a Filosofia. Será esta a ordem de discursiva seguida.
De acordo com o site online Wikipedia a Astrologia é um estudo que tenta deduzir informação acerca das relações humanas, das características psicológicas de cada um e outros assuntos mundanos através das posições relativas dos astros. Conclui pois esta fonte que a Astrologia é uma arte divinatória.
A ciência, segundo o site online Crítica na Rede, é uma designação de que se faz uso para agrupar as ciências formais e as empíricas. As principais ciências formais, assim denominadas pelo facto de não haver existência concreta dos seus objectos de estudo, são a matemática e a lógica. As ciências empíricas são aquelas que estudam os fenómenos naturais e sociais com base na experiência. O fim a que estas ciências se propõem é descortinar e fornecer uma explicação acerca dos padrões e regularidades de tais fenómenos, fazendo uma enunciação rigorosa sob a forma de leis. As leis verdadeiramente científicas instituem generalizações consolidadas acerca dos fenómenos que descrevem, permitem a realização de previsões precisas e são passíveis de ser testadas.
Hipoteticamente assumamos que a Astrologia é uma ciência. Questão: A Astrologia é uma ciência formal ou empírica? Como a Astrologia trata de assuntos sociais, faz crer deduzir respostas através dos astros então é uma ciência empírica. Se a Astrologia for uma ciência será uma ciência empírica. “Será a Astrologia uma ciência?”. Respondendo à primeira pergunta de Quaestio que agora citei, utilizando um argumento formal, o modus tollens, fazendo uso de uma ciência formal, a Lógica, diria: Se a Astrologia for uma ciência terá que ser como as ciências empíricas, que fazem uma enunciação rigorosa sob a forma de leis, sendo as leis verdadeiramente científicas aquelas que instituem generalizações consolidadas acerca dos fenómenos que descrevem, permitem a realização de previsões precisas e são passíveis de ser testadas. Ora a Astrologia não fornece generalizações consolidadas acerca dos fenómenos, nem estas podem ser testadas nem possibilita a realização de previsões precisas. Logo a Astrologia não é uma ciência. Na verdade aparenta ser, sendo por isso denominada de pseudociência. Um dos factores que demonstra a não inclusão da Astrologia no ramo científico é o seu método, sendo esta a razão que justifica as minhas afirmações na segunda premissa do argumento apresentado. O método científico consiste em observação e experimentação, ou seja a ciência é um conhecimento planeado, construído e não dado ao acaso. A Astrologia não faz qualquer tipo de experimentação nem sequer é planeada, ou seja, é tudo aquilo que a ciência não é: é dada ao acaso, consiste na adivinhação.
Passando à segunda parta desta reflexão cito o já referenciado site online Crítica na Rede que descreve a Filosofia como “o estudo dos problemas de carácter mais geral e conceptual que afectam o nosso pensamento científico, religioso, artístico e quotidiano, para os quais não há respostas científicas.”. Logo pela definição é notória que a Filosofia não é uma ciência. Mas façamos como se fez na abordagem à Astrologia: a Filosofia é uma ciência, que tipo de ciência é? Na verdade, a resposta seria que a Filosofia é uma ciência formal e empírica, pois os temas tratados são congéneres a estes dois tipos de ciência, a diferença consiste na abordagem, ou seja, no método que se usa e no fim a que se propõe. Segundo a Crítica na Rede a Filosofia tem como método a discussão racional de argumentos, significando isto que não há realmente métodos formais nem científicos de prova como nas ciências. Na Filosofia o possível de ser feito é cogitar o mais correcta e precisamente, procurando deste modo soluções adequadas. Ou seja, são notórias as diferenças entre os métodos, as definições e os objectos aqui estudados pelo que se conclui que a Filosofia não é uma ciência, embora seja usada por esta.
Embora já respondidas as três questões propostas para esta reflexão, surge-me uma outra que sinto necessidade de responder: se a Filosofia não é uma ciência, então o que é? No meu ponto de vista a Filosofia é a arte dos apaixonados pela verdade, dos insatisfeitos com a simples existência e dos renegados da banalidade.»
André Ferreira 11.ºD

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O verificacionismo

«(…) Um regresso ao empirismo (…) começou a dominar a filosofia britânica antes da Primeira Guerra Mundial, sob a influência principal de dois celebrados filósofos de Cambridge – G. E. Moore e Bertrand Russell.
O primeiro tópico que ocupou a atenção [dos filósofos] na segunda metade dos anos 30 foi a natureza do significado – a sua relação com a verdade e a falsidade, o conhecimento e a opinião e, em particular, o teste de significado em termos de verificabilidade das proposições nas quais foi expresso. O impulso para este tema proveio dos membros da Escola de Viena, eles próprios discípulos de Russell e altamente influenciados por pensadores como Carnap, Wittgenstein e Schlick. A perspectiva comum era a de que o significado de uma proposição é a maneira como ela é verificável – se não existir qualquer modo de verificar aquilo que foi dito, tal não será um enunciado capaz de verdade ou falsidade, não será factual, e, por isso, não terá significado, ou então será visto como um caso de um outro uso da linguagem, tal como se vê nas ordens ou expressões de desejo ou na literatura imaginativa ou noutras formas de expressão que não estão directamente relacionadas com a verdade empírica.»
Isaiah Berlin, “My intellectual Path” in The First and the Last (New York: New York Review of Books, 1999) 25-7. (Tradução ad hoc.)

Rir e pensar

No seu livro Os Problemas da Filosofia, Bertrand Russell ilustra de forma irónica, tipicamente britânica, o problema da indução. Pede-nos que imaginemos um peru a quem o agricultor dá todos os dias de comer. O peru acostuma-se a isso e, cada vez que vê aparecer o agricultor, espera receber a sua ração diária. Suponhamos que o peru é um bom indutivista e não quer precipitar-se nas suas conclusões. Dedica-se, portanto, a recolher pacientemente dados sobre o assunto que mais lhe interessa – a hora da refeição. Finalmente, face à regularidade com que sucedem os fenómenos, o peru acaba por inferir que sempre que aparece o agricultor recebe a sua ração de alimentos.

Estamos no Dia de Acção de Graças e o peru pavoneia-se de contente com a sua descoberta. Não imagina, porém, que, nesse dia, o agricultor que esteve a alimentá-lo até então, em vez de he dar de comer, lhe torcerá o pescoço, metê-lo-á no forno e o comerá!