segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Quaestio

Poderemos estar a viver, hoje, sob o efeito de sombras ou aparências, como as que se refere Platão na “Alegoria da Caverna”, ou de ilusões, análogas às provocadas pelo supercomputador no filme “The Matrix”? Porquê?

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Pequeno acontecimento editorial

Vem amanhã a acompanhar o Jornal Público, Filosofia em Directo, de Desidério Murcho, uma pequena obra de divulgação da filosofia. A Fundação Francisco Manuel dos Santos, que a edita, tem publicado um conjunto de pequenas obras, que pretendem ser sínteses essenciais, em várias áreas do conhecimento e da acção, para ajudar o grande público a melhor compreender Portugal (uma das que saiu entretanto foi A Ciência em Portugal, do conceituado físico português Carlos Fiolhais).

Foi entregue ao filósofo Desidério Murcho, professor na Universidade Federal de Ouro Preto, no Brasil, a tarefa de trazer ao grande público o essencial sobre a filosofia. A ideia é «fazer o leitor assistir em directo, pela força do exemplo e sem mediações históricas nem academismos, ao raciocínio filosófico intenso» (p.12). Consequentemente, trata-se de convencer as pessoas de que ter “umas tintas de filosofia”, na expressão do britânico Bertrand Russell, é importantíssimo para uma vida verdadeiramente humana e até mesmo útil para uma vida bem sucedida numa era cada vez mais exigente: «Ter uma formação elementar em filosofia é importante porque nos ensina a pensar melhor sobre problemas de tal modo complexos que a tentação é desistir de tentar resolvê-los» (p.11). Estilo fácil e atraente, embora sem perder o rigor e a contundência do pensamento filosófico, Filosofia em Directo promete ser uma deliciosa introdução à filosofia e ao filosofar, percorrendo, entre outros, tópicos como democracia, liberdade, valor, sentido, realidade, raciocínio e verdade.
Membro da direcção da Sociedade Portuguesa de Filosofia, Desidério Murcho é autor de várias obras, designadamente sobre o ensino da filosofia, escreve crónicas na imprensa e dirige a revista Crítica. Com raras excepções, em Portugal não abundam títulos deste género assinados por autores portugueses e o país real vive ainda sob o jugo de infundadas ideias feitas sobre o que seja a filosofia e pesados preconceitos sobre a sua utilidade. Por isso, apesar de pequeno, é um acontecimento editorial, pois trata-se de uma importante contribuição de um académico português para o esclarecimento do público não especializado acerca do que é a filosofia e da mais-valia que competências e conhecimentos filosóficos podem trazer a todos.
Já não há desculpas para não saber (nem sequer pelo preço: €3,15)! Obrigatório.

Uma síntese do problema do cepticismo

(daqui)
«A dúvida filosófica surge quando começamos a reflectir sobre como sabemos o que achamos que sabemos. Considere a minha crença de que tenho duas mãos. Porque acredito nisto? Bom, eu sinto-as e vejo-as. Contudo, não poderia a minha experiência ser ilusória? Afinal, os padrões de estimulação eléctrica que estão a ser fornecidos ao meu cérebro pelos meus olhos, ouvidos e outros órgãos sensoriais podiam estar a ser fornecidos por um supercomputador através de um programa de realidade virtual. Se esses padrões de estimulação fornecidos pelo meu cérebro fossem exactamente iguais, as experiências que eu teria em consequência desles presumivelmente também seriam iguais. Eu não conseguiria distingui-las. Aquilo que eu achava ser o mundo real seria na verdade uma complexa ilusão gerada informaticamente, como no filme “The Matrix”. Mesmo o corpo que eu pareceria ter seria virtual.

Então como posso saber que não estou realmente ligado a um computador? Aliás, como posso saber que existe um mundo fora da minha mente? Mas se eu não sei isso, como posso saber que tenho realmente duas mãos? O cepticismo levanta estas dúvidas como desafio filosófico.
(…)
A conclusão tirada pelo céptico não é: “não podemos ter a certeza dos nossos juízos quotidianos, embora provavelmente eles sejam verdadeiros”. O céptico salienta que realmente temos poucas razões ou nenhumas para supor que esses juízos são verdadeiros. Parece que, se o céptico tiver razão, não temos mais razões para supor que o mundo que nos rodeia é real do que para supor que é uma complexa ilusão. (…)

É importante salientar que o céptico não afirma que sabe que ele, ou você, esta a ser enganado por um supercomputador. O que ele diz é que não temos maneira de saber se estamos ou não a viver uma realidade genuína. Para o céptico, a probabilidade de você estar a percepcionar um mundo real não é maior nem menor do que a de ser tudo falso.»

Stephen Law, Filosofia – guias essenciais (Porto: Dorling Kindersley/Civilização Eds, 2009) 51, 52.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Condição necessária e condição suficiente

«Se p é uma condição necessária de q, então q não pode ser verdadeira sem que p seja verdadeira. Se p é uma condição suficiente de q, então, dada a verdade de p, q também é verdadeira. Assim, saber curvar bem é uma condição necessária, mas não suficiente, para conduzir bem, uma vez que uma pessoa pode saber curvar bem, mas conduzir mal por outras razões. Se não se tiver em atenção a distinção, podem resultar confusões. Por exemplo, a afirmação de que A causa B pode ser interpretada como significando que A é, por si só, uma condição suficiente de B, ou apenas que é uma condição necessária de B (...).»

Simon Blackburne, Dicionário de Filosofia (Lisboa: Gradiva, 1997) 75.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Rir e pensar

Quantos cabelos têm de cair a uma pessoa para poder ser considerada calva?

(Esta é uma questão à qual subjaz uma falácia: a falácia da anfibologia ou vaguidade. Consiste em jogar com a vaguidade de algumas palavras, levando-nos a crer que se torna impossível chegar a uma conclusão ou que é falsa determinada ideia, quando na realidade pode não ser. Neste caso, faz-nos crer que nunca poderíamos determinar exactamente quando uma pessoa pode ser considerada calva, já que se trata de um conceito vago!)

sábado, 8 de janeiro de 2011